Vinil Os Paralamas do Sucesso - Selvagem? 1986 (LP Creme Opaco Esfumaçado)
SELVAGEM? (1986)
LP
EMI-Odeon
O terceiro álbum dos Paralamas do Sucesso é um divisor de águas na carreira da banda. Lançado em 1986 após o grande sucesso de “O Passo do Lui” e uma megaturnê Brasil adentro, o disco mergulha na sonoridade brasileira, caribenha e africana, e na vida social e política do País, com temas até então nunca abordados de maneira tão ferina pelo grupo. O disco também aproximou o trio de outras gerações de artistas, como Gilberto Gil e Tim Maia.
Sob produção de Liminha, que também assume os teclados em quatro faixas, “Selvagem?” abre com o hit “Alagados”, já responsável por apontar a ousadia do novo trabalho. Rock, Reggae, Percussões com um pé no Brasil e outro na África, efeitos de Guitar Phaser (pedal) e muita latinidade conduzem a faixa, com letra que escancara as diferenças sociais e culturais do País: “Alagados, Trenchtown, Favela da Maré / A esperança não vem do mar / Nem das antenas de TV…”.
A música tem participação de Gilberto Gil nos vocais, que também assina com o trio Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone a composição da faixa 3, “A Novidade”. A canção equilibra o que os Paralamas traziam de melhor neste disco: Crítica inteligente e suingue irresistível. O reggae com refrão melódico rapidamente caiu no gosto da juventude e elevou às alturas as vendas do LP - até hoje o mais bem sucedido na carreira da banda em números.
Seguindo no discurso político, a faixa-título “Selvagem” explana as lutas de classes e poderes na sociedade brasileira, em plena época de pós-reabertura política (1986), e sublinha o despertar da consciência social e política daquela juventude: A polícia, O governo, Os negros… todos apresentam suas armas.
Mas o disco não é composto apenas de críticas e punhos cerrados. “Selvagem?” traz a ironia e irreverência dos Paralamas no hit “Melô do Marinheiro” e seu inesquecível refrão “Entrei de gaiato no navio / Entrei, entrei, entrei pelo cano” e o romantismo - agora mais brando - em “A Dama e o Vagabundo” e na regravação em ritmo de reggae da música “Você”, de Tim Maia, com percussões de Armando Marçal, um clássico até hoje.
Cada vez mais próximos do reggae e suas vertentes, em “Selvagem?” Herbert, Bi e Barone passeiam pelas levadas jamaicanas de uma maneira bastante pessoal e, junto com Liminha, nadam de braçada nesse mar caribenho, com guitarras marcantes, suingues malemolentes e efeitos que marcam todo o álbum, com ênfase nas faixas “O Homem” e no ska “Teerã”. Esta ainda ganhou uma versão em Dub, assim como “Marujo Dub” foi uma alternativa estética para o “Melô do Marinheiro”. Completando o disco, o rock oitentista com letra em inglês “There’s a Party” acena para um flerte de carreira internacional. Após este lançamento, a banda fez sua primeira apresentação no Festival de Montreux, na Suíça, em 1987.
A capa de “Selvagem?” é uma história à parte, com a foto de Pedro Ribeiro, irmão de Bi, fantasiado de “selvagem” durante um acampamento entre amigos. O trio já ensaiava para as gravações com a imagem colada na parede e a escolha para ilustrar a capa também foi uma brincadeira levada a sério de “afronta ao sistema.”
Repertório do LP:
Lado A:
1 - Alagados (Herbert Vianna/Bi Ribeiro/João Barone)
Participação: Gilberto Gil
2 - Teerã (Herbert Vianna/Bi Ribeiro/João Barone)
3 - A Novidade (Herbert Vianna/Bi Ribeiro/João Barone/Gilberto Gil)
4 - Melô do Marinheiro (Bi Ribeiro/João Barone)
5 - Marujo Dub (Bi Ribeiro/João Barone)
Lado B:
6 - Selvagem (Herbert Vianna/Bi Ribeiro/João Barone)
7 - A Dama E O Vagabundo (Herbert Vianna/Bi Ribeiro)
8 - There's a Party (Herbert Vianna)
9 - O Homem (Herbert Vianna/Bi Ribeiro)
10 - Você (Tim Maia)
Créditos:
Produzido por: Liminha
Gravado no estúdio "Nas Nuvens" em fevereiro/março de 1986
Engenheiro de Gravação: Vitor Farias
Mixagem: Vitor Farias, Liminha e Paralamas
Assistente de Estúdio: Bernardo Muricy
Assistente Técnico: Ricardo Garcia
Assistente de Produção: José Fortes
Direção Artística: Jorge Davidson
Capa: Ricardo Leite
Fotos: Maurício Valladares
Coordenação Gráfica: J. C. Mello